sociedade

'Pensem nas crianças...': crianças refugiadas

Rafaela Santos Rosa
Apaixonada por crianças e confiante em um mundo melhor feito por elas

Durante a Segunda Guerra Mundial, como protesto às explosões de bombas atômicas ocorridas em Hiroshima e Nagasaki, retratando os efeitos da guerra, o cantor e compositor Vinícius de Moraes escreveu o poema "A Rosa de Hiroshima". 

Remetendo ao cenário de horror daqueles tempos, logo no início do poema escreveu: "Pensem nas crianças, mudas telepáticas". Nesse verso, o escritor faz menção às crianças alheias ao conflito de duas grandes nações e que sofreram em razão de circunstâncias não geradas por elas.

Tais crianças, no entanto, tiveram de migrar após a queda das bombas em razão das cidades ficarem devastadas ambientalmente e economicamente, devendo ser evacuadas em função do alto risco de contaminação, iniciando-se, assim, um quadro migratório. 

As migrações sempre foram um desafio mundial e, em tempos de globalização, não é diferente. Dentre os maiores desafios contemporâneos, está a crise migratória mundial e a expressiva dimensão dos fluxos de refugiados. O fato mais alarmante e que poucos mencionam é o de que a maioria das pessoas que se encontram em situação de refúgio, são crianças. 

De acordo com o ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), refugiados "são pessoas que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição relacionados a questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou opinião política, como também devido à grave e generalizada violação de direitos humanos e conflitos armados." 

Com menos de 18 anos de idade, as crianças representam 52% da população refugiada no mundo, ou seja, metade daqueles que sofrem por motivo de extrema vulnerabilidade e que se instala a cada dia mais no cenário global de intolerâncias que vivemos. 

Acompanhadas pelos pais ou, não raras vezes, desacompanhadas, seguem o trajeto da vida na tentativa de encontrar novas perspectivas e proteção. Muitas viverão uma infância solitária, não frequentarão a escola, e terão sérios problemas de saúde e talvez nem sintam a experiência de viver outra vida senão a de refugiado. 

Devido à tanta vulnerabilidade e sofrimento, muitos são os que se doam para que esses dados diminuam. O Brasil, por exemplo, possui órgãos especializados, como o CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), que promove políticas para a garantia da efetivação dos direitos das crianças refugiadas, além das Cátedras e tantos outros organismos voluntários que se importam com a causa.

Entretanto, em razão dos dados apresentados acima, tais programas de auxílio ainda não são suficientes, embora eficazes na busca pela melhora nos índices de acolhimento. Em nível mundial, também é preciso evoluir por meio de legislações e políticas públicas integradas para que a proteção ocorra em níveis mais significativos. 

Por isso, comece por você. Imagine-se no lugar de uma criança refugiada, com fome e cansada de tanto buscar um refúgio seguro. Imagine-se, também, com oito anos de idade, desacompanhado(a) de seus pais e com medo. Imagine-se, ainda, tendo que, tão pequeno, sem nem saber muito sobre a vida, precisar encontrar forças para conseguir sobreviver. 

Não é um desafio fácil, porém, para quem sofre na prática, é um sentimento deveras pior.

Muitas são as plataformas de ajuda, os meios para se informar, e os que se comprometem para que os direitos humanos sejam efetivados para que a triste vida dessas crianças se transforme em amor. Necessário entender, portanto, o quanto precisamos nos unir, e lutar para que tais crianças tenham voz por meio de nossos esforços. 

Do contrário, remanescerá o verso de Vinícius de Moraes, porém em um novo cenário histórico, o qual se entende por globalizado, e que se releva tão desumano e ardil quanto fora o retratado no passado.

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